sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Jean Fouquet, Virgem com o Menino (c. 1450)


Recordo-me de ter visto em criança, durante as férias num lugarejo de veraneio, um papel afixado à entrada de uma capela onde o prior rogava respeito pelo local sagrado, e, mais especificamente, que não entrassem senhoras senão com o peito devidamente velado. Só alguns anos depois haveria de perceber o sentido do texto, mas a sonoridade de "peito velado" ficou-me até hoje.

Esta "Virgem com o Menino, Rodeados de Anjos", actualmente exposta no Real Museu de Belas Artes de Antuérpia, constitui a metade direita de um díptico (dito de Melun) pintado pelo francês Jean Fouquet por volta de 1450. Sublinho o carácter gótico já tardio, as cores fortíssimas e contrastantes dos anjos em segundo plano, a palidez dos tons de pele, o vestido elegante (não destoaria numa festa dos dias de hoje), o penteado radical (estava na moda rapar a parte da frente da cabeça) e o corpo blasfemo da virgem.

Um século mais tarde, com o Concílio de Trento, a coisa começaria a piar bastante mais fino em matéria de decotes, mas por esta altura a exposição da mama da virgem não era tão rara assim, estando geralmente associada à aleitação. Os dois livros que consultei dizem-me que não é esse o caso nesta imagem: a iconografia não corresponde à da amamentação do menino, e o peito desvelado, que tanto ofenderia o pároco da capela da minha infância, teria uma intenção francamente erótica.

O visitante sério e digno a quem repugne a calhandrice deverá ficar-se por por aqui mesmo. Os demais, ficarão a saber que a dama retratada como virgem Maria dava pelo nome de Agnès Sorel, também conhecida por la dame de Beauté, amante predilecta de Carlos VII, rei de França. Ao que se sabe, também terá dado umas voltas com o tesoureiro do rei, Étienne Chevallier, que encomendou o díptico a Fouquet, de quem era cliente regular. Gosto de imaginar que pagou o quadro com um desfalque no mealheiro do rei. Agnès morreu em 1450, de desinteria, segundo constou na altura. Em 2005, gente que se interessa por estas coisas (a sério que não fui eu) decidiu exumar o que restava da senhora, e concluiu que a morte se deveu a intoxicação por mercúrio. Acidente? Homicídio? Abrem-se as portas às teorias de conspiração. Carlos VII, esse, recuperou do luto e seguiu a vidinha, dedicando os seus afectos voláteis a uma prima da falecida, Antoinette de Maignelais, uma jovem de dezasseis anos que o rei tratou de casar com um homem de confiança, pagando-lhe a bom preço o benevolente par de cornos. Contudo, como bem se sabe, o amor só é eterno enquanto dura, e Carlos VII não durou muito mais: morreu em 1461, e a Antoinette teve de procurar trabalho noutro lado, tornando-se amante de Francisco II, duque da Bretanha.

4 comentários:

  1. Embora aprecie pintura, sobretudo a da passagem da idade média para o renascimento, pelo que ela tem de valorização do ser humano, em contraponto ao teocentrismo medieval, não sou conhecedor nem mesmo razoável da arte. Porém, fiquei chocado com a modernidade do quadro: a atrevida exposição do seio feminino, de uma mulher, não da mãe de Cristo, a perfeição da beleza dele, exibindo sua finalidade erótica, a qualidade humana da figura feminina, a figura da criança, realmente uma criança e não um menido-deus, a já referida elaboração do vestido, evidenciando sua intenção de atrair, tudo no quadro é moderno e subverte as separações costumeiras entre os momentâneos estilos dos períodos artísticos. O mais importante é que o quadro não tem a ideologia renascentista, porque está além dela: a mulher não prega a valorização do humano, está consciente dela e usufrui suas prerrogativas com evidente prazer. É um quadro com uma extraordinária característica: sem pregar nada, refere-se a todos os momentos da evolução de pintura, emparelhando-se aos artistas que trouxeramn concepções novas em oposição às vigentes. Um exemplo único da perenidade da arte!

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  2. É uma voz com mais de quinhentos anos que ainda nos fala ao ouvido. Obrigado pela visita.

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  3. uma coisa com muito sentido:
    o joãnsinho chegou para a mãe e falou mãe me da uma bicicle ta azul ai a mãe falou pra que se sua irmã tem uma janela rosa e essa piada afetou muitas formigas verdes do afeganistão.
    outra com muito sentido:
    dois barcos estavam voando aieles cairam 3 elefantes e meio foram ajudar quantas laranjas sobraram? nem uma porque cavalo não chupa pirulito de menta.kkkkkkkkk
    uma historinha que muito mais sentido ainda:
    era noite o sol brilhava no horizonte montanhoso la estava eu andando parado, sentado de pé em uma pedra de pau quando muito longe perto dali avistei um bosque sem arore ande os passaros pastavam e as arvores pulavão de galho em galho procurando seus ninhos então vagarozamente rapido resolvi voltar pra casa onde entrei pela porta da frente que ficava nos fundos puis a roupa sobre a cama e me pendurei no cabidi a oonde dormi. achei que estava sonhando e quando acordei vi q estava dormindo então fui ao banheiro onde por la eu almoçei senti um gosto horrivel na boca então percebi que tinha comido o quarda napo e limpado a boca com o bife olhei para o lado e vi uma porta onde havia um papel em branco que estava escrito o mundo é uma bola quadrada que gira parada diante desses fatos resolvi que prefiro a morte do que morre!!
    fimmm
    kkkkkkkkkkkkkkk
    xauuu

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