domingo, 20 de setembro de 2009

Domenico Ghirlandaio, Retrato de Giovanna Tornabuoni (1488)



Se a arte pudesse reproduzir a nobreza e o espírito, não haveria pintura mais bela no mundo do que esta.

A inscrição em latim é uma adaptação de um epigrama de Marcial, poeta Romano do primeiro século depois de Cristo, e traduz como que um lamento do Ghirlandaio: fiz tudo o que sei, mas não é possível pintar fielmente algo tão perfeito como ela. Pela parte que me toca, o pintor foi algo modesto: este retrato é das mais belas representações artísticas de uma mulher, e irradia dignidade. A pose em perfil oculta o olhar, mas ainda assim é impossível não sentir uma espécia de reverência perante a presença da Giovanna.

Os traços da modelo reproduzem o ideal de beleza feminina da época: testa alta, pescoço longo, rosto clássico, pele e cabelos claros. O trabalho na indumentária e nos adornos é elaboradíssimo, talvez fruto da experiência do pintor como joalheiro. A iluminação do rosto transmite tridimensionalidade, apesar da pose estática.

A título de curiosidade: Ghirlandaio inseriu uma imagem praticamente idêntica da Giovanna numa cena bíblica que pintou nos frescos capela dos Tornabuoni.

Dramatis Personae:

Domenico começou por trabalhar como joalheiro, como o pai, de quem herdou a alcunha "Il Ghirlandaio" (o que faz grinaldas). Em boa hora se voltou para as tintas, tendo-se tornado um dos grandes mestres do renascimento em Florença, onde chegou a ter como aprendiz um tal de Miguel Ângelo.

Giovanna degli Albizzi, menina de boas famílias, casou pelos seus 18 anos com Lorenzo Tornaboni, comerciante e banqueiro com tanto de riqueza como de bom gosto. Não viveram felizes para sempre, pois que a pobre rapariga morreu 2 anos depois, em trabalho de parto.

J. P. Morgan, já agora, abastadíssimo banqueiro estado-unidense do século XIX, comprou este retrato para a parede do escritório. Lembrava-o de Amelia Sturges, a sua primeira mulher, que casou já em estado terminal e morreu poucos meses depois.

Donde se conclui que se o dinheiro não traz felicidade, pelo menos paga coisas bonitas. Por exemplo, uma ida e volta a Madrid para ver a Giovanna em pessoa, no Thyssen-Bornemisza.

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